Longe de imaginar: quem diria que há quem defenda a continuidade do sofrimento em detrimento de ultrapassá-lo?

Opinião Pessoal 19:

Paulino Intepo
intepo1607@outlook.com

Nem tudo o que eles reclamam lhes dói, de verdade. Podem estar apenas manifestando o seu modo de vida normal e tu não sabes nem te dás conta. Tem cuidado com o que se vê, porque o que se sente, no íntimo, pode ser amor à dor e ao sofrimento. Eles fingem estar sofrendo. Mas no fundo... Podem não estar a partilhar essa dor, esse desconforto contigo. Podem estar te iludindo que estão sofrendo para te fazer sofrer também, pois a palavra de ordem aqui é o sofrimento, há prazer nisso. 

Deves ter perdido a imunidade que te ajudaria anestesiar a sensibilidade da dor. O povo moçambicano desenvolveu essa capacidade humana de não sentir o sofrimento. É imune a dor causada pela má gestão, pelos piores e péssimos líderes que se renovam à cada ciclo, autarquicamente, provincialmente e à nível nacional e tu, caro cidadão de vivo, sentes de carne e alma por isso essa revolta. 

Sentir que estás a sofrer e exposto a passividade é um caso. Descobrir oportunidades nesse sofrimento é o que eu quero e luto para saber. O resto, vamos entre as linhas e ironia.

É o que os alemães denominam-no por masoquismo ou taxativamente sadomasoquismo, já que nota-se neste contexto aceitação do sofrimento e ao mesmo tempo prazer e ainda predomina a culpabilidade inconsciente submetendo-se ao medo de perder esse amor, aliás, essa dor que se deseja que dure para sempre e se sente falta quando não há. Poucos fazem o menor esforço para superar o sofrimento submetido e todos, quase, contentam-se e confortam-se nas migalhas que sobram do sistema.

A título de exemplo, é que muitos acham que o governo da frelimo nesse caso, faz um favor ao seu povo e ao país quando constrói uma estrada de má qualidade e recheia as portagens, quando constrói umas salas e chama de escola etc, vergonha que se devia sentir torna-se orgulho e motivos de pagar um cunhado de abençoados para ir aplaudir relatórios que arrolam coisas de gênero, na infame casa do povo. É uma opções que por unanimidade o povo moçambicano, o cidadão desse país escolheu, sofrer. 

Aliás, há rumores ou notícias, já que ultimamente custa diferenciar, que o Hospital Provincial de Tete negou material necessário e que faz falta à população. Que absurdo. Mas os mesmos tipos não conseguem negar quanto a corporatocracia lhes cunha para aceitarem acordos que deixam gerações endividadas em detrimento do bem pessoal e privado. Mas quando é para o bem do povo, aí esperam autorização de Maputo(…)

Aprendi a pensar assim quando li sobre um determinado povo do Irão/Irã, num relato de 1975 a 1978, representado por Xã, defendia que os desertos são a sua identidade. Os desertos eram parte deles e transformá-los, florescendo-lhos seria como se fosse uma espécie de matar o elo entre os povos nativos e as tais terras, actualmente desertas. 

Então conclui na minha opinião, que o sofrimento em Moçambique seria a identidade do povo moçambicano o qual a Frelimo e os seus abastados mandatários parlamentares, sabem e defendem que acabar com o sofrimento do povo moçambicano seria como arrancar a alma do povo. “Matar-nos chefe”.


Por isso, toda e qualquer tentativa e iniciativa, vontade e inteligência que tenha em vista a melhoria das condições de vida das populações em Moçambique, fracassa. Isso não é maldição nem é por acaso. É apenas escolha colectiva – não sei se é voluntariamente, mas é um modo de vida, por opção. 

É o normal dos moçambicanos. Sofrer por qualquer coisas que seja, desde que traga sofrimento extremo em relação aos outros normais. Os outros autores fracassam quando tendem mudar, por isso nem o próprio povo cobra os resultados muito menos apoia aos que pretendem mudar algo. 

Só foi Samora que até hoje suas palavras ecoam por todo canto dessa nação e estão na boca de todos corruptos, exceto os religiosos que baseiam-se nesse sofrimento para sua existência. Nisso temos em cada esquina qualquer garagens que vendem prosperidade pela fé em troca de último centavo adquirido pelo sacrifício e poupado, que serviria para resolver futuros eventos ou investimentos para melhoraria de vida, em detrimento de termos escolas em cada esquina que ensinem a questionar qualquer pronunciamento.

Questionar as coisas, não é filosofia nem é ser filosofo ou político como queiram. Nem se quer é ser desmotivado e descontente. Questionar-se é ter consciência da vida. É estar ciente sobre qualquer passo que marcamos e qualquer atitude tomada perante uma decisão qualquer em diversas circunstâncias que a vida nos impõe. 

Questionar sobre o mundo e modos, condutas e vidas é estar lúcido e acordado, é dar razão a existência. E conscientemente admitir que vale a penas viver ou não. Em todo caso, a vida simplesmente, em Moçambique, nos acontece. Se depende-de de alguma coisa que me vem na cabeça, não mereceriamos nem o ar que respiramos de graça por estar vivos.

Ngoenha (2020), fala sobre normalização do sofrimento nos moçambicanos quando tenta mundializar a sua dor pelo povo moçambicano na óptica de instrumento que serve para medir a desatenção colectiva sobre o que é normal e anormal para nós, pobres. Ele nota uma espécie de levianesa no sensação do povo assim como uma anestesia nos seus líderes - melhor: levianesa ou insensibilidade nos líderes e anestesia no povo. Ele normaliza o desespero como sendo a nossa forma de ser e viver. 

Enquanto os outros povos tem nojo do sofrimento e a esperança de dias melhores sempre é-lhos acesa, nós temos dias melhores nas palavras dos nossos heróis vivos (da luta de libertação nacional), das promessas e nas histórias que tivemos dias piores e que já estamos no novo normal. Ainda que sem curar nem ultrapassar os antigos paradigmas nem termos em vista as próximas metas por alcançar.

Este povo que é meu e que faço parte, é também sofrimento antes de esperança frustradas e mundo de medos de mudança. Este povo é sofrimento, basta estar com e ser-se este povo para ser sofrimento. Não sofremos o que somos. Como seria sentir o que se é? Pode haver lapso de um ou dois de forma anormal prosperarem hão-de voltar ou melhor há-de haver um deslize para que voltem as raízes. 

Um sofrimento secular não pode ser visto de outra forma senão normal. Está no sangue e é o nosso código genético. As escolas que abrem a mente ou o sistema nacional de educação foi moldado e aperfeiçoado ao longo dos últimos 30 anos, para garantir a qualidade do sofrimento humano no mundo dos moçambicanos.

Está tudo nos “i”s não nos podem tirar o sofrimento senão morremos logo. Ficamos nus e sem chão. Se o sofrimento fosse mau tal como dizem e vejo, não teríamos velhos que desde nunca tiveram outra vida se não na base do sofrimento. Essa dor não é uma cicatriz é porém o sangue que a partir do coração, bombeia às veias e circula fazendo lavagem de qualquer tentativa que queira purificar o organismo. Qual boa vida mais saudável que está? 

Já se teria deposto governantes, administradores, presidentes municipais, chefes do posto etc, se não o fazemos é por que já atingimos ou estamos onde queremos estar. Não há e nem é conformismo. Em cada bairro, em cada apartamento improvisado tem num raio de 500 jardas dezenas de doutores ou licenciados. Teriam lutado academicamente para reverter o cenário se esse sofrimento doesse.

Então, evoquem sofrimento do povo que prosperarão em meses mas não se atrevam a mudar algum regime, no sentido de melhorar algo que vão se ferar. Não questionem, não ridicularizem, não tragam nada revolucionário que esse povo sabe de tudo e sobre todos. 

Só não reage é pelo amor de Deus que concede o que cada povo merece. Só digo isto porque estava longe de imaginar, que há quem defenda a continuidade do sofrimento do povo moçambicano em detrimento de ultrapassá-lo e superá-lo, cuidam apenas do bem pessoal e privado (recomendação áurea que incita anarquia: faça sua parte) , e descobri, é o povo moçambicano mesmo, que incentiva que isso aconteça. Que o Ocidente pode negar e vedar as fronteiras, nos encurralando pelos mares, um dia gente quebra as fronteiras e fará chegar esse sentimento aliás, esse sofrimento e juntos vamos partilhar com orgulho a nossa dor que é o ar que gente respira.

Quem também nos apoia é aquele todo que prefere importar e receber apoio em armas, fazendo seu povo de escudo para se impor diante de qualquer ao invés de aceitar a paz através do diálogo, que arrastou o seu povo por ter muita inveja da nossa rica pobreza. Nós já fizemos as pazes com o desenvolvimento e já mais evoluiremos e o crescimento, o bem-estar etc, nunca vão nos encomendar. Estamos melhor sofrendo que buscando o bem colectivo. 

Dizem que foi Eduardo Mondlane o primeiro a querer usar os conhecimentos da área do direito para defender que o bem-estar colectivo era bom, teve seu destino trágico em nome da salvação do sofrimento do povo; Samora tentou usar os dotes de seu aprendizado em enfermagem para curar e sarar a dor dos moçambicanos, questionavelmente partiu num acidente trágico; de forma particular vimos o Amurane erguendo uma cidade para igualar a Maputo, ainda não se deu o desfecho do caso da sua morte. Há algo em comum nestes heróis e nas tantas outras vítimas que tentaram quebrar a corrente. 

Longe de imaginarem, quem diria que há quem defenda a continuidade do sofrimento e dor deste povo moçambicano em detrimento de superá-lo. E este que defende que a fome, a miséria, a injustiça, a pobreza nunca acabe no seio dos moçambicanos é um nativo, é moçambicano e não pode de forma alguma ser mortal.

Então, se não fosse mortal, teria sucumbido e se até nos próximos 10 anos não morrer por doença ou acidente doméstico… então é o próprio povo que defende a continuidade do sofrimento em Moçambique. Caso não, não vejo outra entidade sobre natural a se opor no bem dos moçambicanos. 

Temos igrejas e mesquitas desde santas até diabólicas, civilizadas até tradicionais, teria havido algum esforço divino para mudar o cenário. Senão, já tem motivos mais do que suficientes para investir na busca do melhor e formação de bons líderes para os conduzir, ainda que seja necessário importar ou alugar um estrangeiro para o efeito, já seria altura.

Se não for o caso de ser o próprio povo a defender a continuidade do sofrimento. Se estou certo, não adianta provar o contrário, pois tudo feito contra vontade não trás resultados satisfatórios e é desperdício de tempo e recursos. Salvo a Google pela sua filial Adsense penalizar-me ainda que incito algo algum, mas só deixei ficar o minha opinião, pessoal e que julgo ser errada. Estou aprendendo tirar o sabor desse sofrimento também. 

Obrigado e partilhe, comente se possível também, ignore para me ensinar a sofrer e viver anestesiado de modo que não sinta nada. Afinal, evoluímos ignorando que somos ignorantes. Errado?

Tete, Maio de 2022

   

 


Comentários

  1. Profundo, profundo tudo se resume a um ponto : cada organização é a cara do seu Líder”… todo esforço pra liberar q mente de um escravo é infrutífero a não ser que esse scrapbook queira ser Livre… assim é este povo

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