E SE USASSEMOS O ÓDIO COMO UM COMBUSTÍVEL DE MUDANÇA "POSITIVA"

O Ódio que se Desperdiça e a Nação que Não se Constrói

O receio de estar a se preparar um "Nepal" em Moçambique de qualquer lado é mais forte que a esperança de um país de paz nos próximos momentos. Lino TEBULO. 

A cena que circula nas redes sociais — de um homem brutalmente agredido até à morte por vestir uma camisola da FRELIMO em Nampula — não é apenas um episódio isolado de intolerância política. É um retrato cru daquilo que Moçambique vem alimentando: a canalização da raiva popular para o caminho mais fácil, o da destruição, em vez de a transformar em energia construtiva.

A pergunta que deve ecoar em todos nós é simples: porque razão o ódio contra a FRELIMO, em vez de se converter em violência, não se transforma em acções concretas de bem comum para o futuro?

A resposta exige que deixemos de lado os filtros da retórica política e encaremos o problema sem reservas. O povo moçambicano carrega décadas de frustração acumulada — promessas não cumpridas, corrupção enraizada, desigualdades gritantes, precariedade estrutural e uma elite política que, ao longo dos anos, se distanciou da base que a sustenta. Essa raiva é legítima. Mas a forma como se expressa revela outro fracasso: o da maturidade política e da consciência cidadã.

O que o ódio não faz

O ódio, quando se transforma em pancadas, linchamentos, perseguições e assassinatos, não derruba sistemas. Pelo contrário, reforça-os. Alimenta o discurso da vitimização, legitima ainda mais a repressão e distrai da luta principal. A morte de um homem com uma camisola, por mais simbólica que pareça, não corrige a pobreza, não melhora a saúde, não gera emprego e nem abre escolas. Apenas deixa um corpo no chão, uma família em luto e um país mais dividido.

O que poderia ser feito

Se essa mesma energia fosse canalizada para criar redes de solidariedade, cooperativas agrícolas, grupos de literacia política, campanhas de cidadania activa, tribunais populares de moralidade pública, e até formas criativas de protesto pacífico — o impacto seria outro. O que enfraquece um sistema não é o ódio vazio, mas a organização prática do povo em alternativas concretas.
É aqui que Moçambique falha: confundimos resistência com brutalidade, confundimos revolta com vandalismo, confundimos coragem com linchamento.

A responsabilidade das gerações

As futuras gerações não herdam apenas o país no estado material em que está, herdam também o padrão de agir e reagir. Se hoje respondemos ao fracasso do sistema com sangue, amanhã os nossos filhos farão o mesmo contra qualquer outro partido que se torne poder. O ciclo vicioso perpetua-se: intolerância gera intolerância, ódio gera ódio, violência gera violência. Não se constrói uma nação desse modo.

A transcendência que falta

O que falta transcender, moçambicanos, é a lógica de que a FRELIMO, ou qualquer outro partido, é o inimigo supremo. O verdadeiro inimigo é a injustiça. É ela que deve ser combatida, não a cor da camisola ou o símbolo partidário. A justiça combate-se com estruturas de pensamento, organização e acção que visam o bem comum. E aqui reside o nosso maior desafio: enquanto o povo não aprender a transformar o ódio em criação — criação de alternativas, de soluções, de futuros possíveis — continuará a ser manipulado, continuará a gastar pólvora em alvos errados, como faz a polícia contra o povo sob orientações superiores e entre eles sob controlo dos arquivos soltos. 


Em resumo: o ódio contra a FRELIMO poderia já ter construído bibliotecas comunitárias, clínicas móveis, rádios independentes, associações juvenis sólidas, mecanismos de fiscalização popular, espaços alternativos de poder social. Mas o que temos é sangue derramado por uma camisola. É esta a tragédia de Moçambique: perdermos energia em destruir corpos, quando deveríamos estar a construir futuro.




Comentários

  1. Lógico, na verdade não há como construir um Moçambique melhor, convertendo o ódio por massacre, não há necessidade de machucar o seu irmão da mesma côr, só porque veste uma camisola de um partido A/B em que você não está de acordo, a mudança de comportamento é gerada por criação de alternativas, de soluções, e de futuros possíveis.

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