QUAL SEGUIR: DECLARAÇÕES GOVERNAMENTAIS OU ABORDAGEM TÉCNICO-CIENTÍFICAS?

Tete entre duas sedes: bairros sem água canalizada e torneiras com água imprópria

O drama da água na Cidade de Tete não se limita à falta de expansão das redes de abastecimento para os bairros periféricos, como relatam os munícipes. Mesmo nas zonas em que existe água canalizada, a realidade é igualmente alarmante, segundo uma conclusão técnico-científica. Estudos apresentados em jornadas técnico-científicas revelam que a água da rede pública de Tete é considerada imprópria para consumo humano, por apresentar elevados índices de contaminação física, química e microbiológica.

@WhatsApp: Captura da conclusão de uma apresentação na jornada científica da HCB, Songo/2025

Isso significa que, para além da exclusão de milhares de famílias que vivem há décadas sem ligação domiciliar de água canalizada, aqueles que têm acesso ao sistema formal estão também em risco. A água disponível não só é escassa como constitui um factor de risco para a saúde pública, podendo estar associada à eclosão de doenças como cólera, disenteria, insuficiência renal, cancro do fígado, perda de memória, problemas cardiovasculares e até distúrbios psicológicos.

A gravidade do cenário é tamanha que os próprios especialistas recomendam que a provedora de água na Cidade de Tete se adeque às normas nacionais estabelecidas pelo MISAU, sob risco de continuar a fornecer um recurso essencial em condições que atentam contra a saúde e a dignidade humanas.

Esta realidade desmonta por completo o discurso político que insiste em apresentar avanços no sector de água e saneamento. Não há avanços quando populações ribeirinhas, às margens de um dos maiores rios da África Austral, continuam a beber água suja ou a gastar parte significativa do seu rendimento na compra de bidões de água em charcos privados. Não há avanços quando a água tratada que chega às torneiras urbanas é catalogada como veneno lento para o organismo humano.

Mais do que uma questão de engenharia ou de capacidade técnica, estamos perante um problema de governação e prioridades nacionais. Um país que tolera que a sua população viva entre dois extremos – ausência total de água canalizada nos bairros periféricos e presença de água contaminada nos bairros centrais – é um país que escolheu abandonar o princípio básico de que o acesso à água potável é um direito humano fundamental.




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