Olha, até onde a capulana nos levou
Opinião Pessoal 13:
Olha, até onde a capulana nos levou
Paulino Intepo
Surgiu no continente asiático, segundo os
europeus chegou à África pela primeira vez nos Séculos IX a X. Inicialmente
como moeda de troca no âmbito comercial entre árabes persas e povos que viviam
ao longo do litoral. Onde apenas os monarcas a usavam, como símbolo de
representação de poder. Logo, é afirmação da capulana como um instrumento de
legitimação do poder e não apenas como uma questão de pura moda.
Actualmente, este tecido é usado como vestuário
além das funções básicas, tradicionais, usado pelas mulheres para carregar os
seus filhos nas costas, carregar trouxas, fazer tendinhas nas machambas e em
outras situações remotas. Servem também para se utilizar como: toalhas, cortinas, panos de mesa, lençóis ou cobertores, filtros de água, bandeiras que simbolizam
vários cenários dependendo das regiões, fraldas, pensos, etc.
Em dias quentes, às vezes são usadas por homens
em volta da cintura. Nalguns casos quando se está doente, também usa-se, como
decoração, tapete. Etc. Para o resto da África, até é popular as declarações demoda na cultura pop urbana, entre os jovens, é comum manifestarem com ela. Assim como
podem ser usadas em algumas ocasiões e de várias maneiras, simbolicamente ou
por razões práticas.
Enfim, a capulana é um mar de histórias e vivências contidas na nossa identidade cultural e independentemente da época, é um bom negócio com lucros garantidos.
Mas fora de elogios, nunca esteve perto
de imaginar que a dado momento ela, a capulana, este retalho de pano muito estimado, viria a se tornar numa maldição
ou ser parte dela, causando infortúnios e infelicidades nas famílias das comunidades
moçambicanas.
O dia 07 de Abril em Moçambique, é reservado à celebração do emponderamento da Mulher moçambicana, na qual se comemora como um feriado nacional, alusivo ao engajamento do destacamento feminino na luta de libertação nacional e nas outras nuances que dizem respeito ao processo evolutivo do país depois da independência. Homenageia-se nessa data, toda mulher moçambicana, sendo como a imagem da capa, a heroína Josina Machel.
Mas parece não ser tão especial para as mulheres, quanto sagrado para o desfile da capulana. Não sei como será com a existência desse flagelo, promovido pelo dito livre-arbítrio, LGBTQ. Porque só entre mulheres naturais de sexo feminino a coisa fica assim tão feia, imaginem quando aqueles que desistiram de ser homens se juntarem a esse fenómeno?
Haverá mais sangue na véspera, durante e depois, do que aquele derramado na altura da própria luta de libertação, por não se presentear as mulheres com capulanas. Logo, no dia
seguinte estaremos a preparar o velório de alguns camadas, rotulados à
incompetência de não saber tratar, segundo a moda que pegou, às rainhas, guerreiras, batalhadoras, etc.
O dia 07 de Abril de cada ano, pode ser especial sim, mas não acho que seja considerado sagrado até ao ponto de haver atrocidades e confusões alinhadas ao argumento da falta de presente, que está sendo obrigação aos maridos, aos homens que "devem" arrumar uma capulana, em razão de evitar que haja situações como:
- Ser motivo de violência doméstica e física - contendas e pancadarias;
- Ser motivo de separação e destruição de família;
- Queimaduras de maridos;
- Abandono de pacientes, doentes nas camas dos hospitais, em protesto de não ter-se recebido uma capulana. Só para elucidar ainda mais, celebra-se internacionalmente, dia 07 de Abril como o dia da Saúde Mundial. Este tipo de manifestação, estraga a beleza do desta data.
Senhores emancipadores e promotores do género, olha até onde chegamos, ou até onde a capulana nos levou. Cá-de o profissionalismo? O bom senso. O dia 07 de Abril, já supera qualquer legislação, juramento e compromisso. Rasga qualquer acordo. Afinal, é só por motivos desse pano, tecido feito de algodão e o que mais?(...) só? Não pode ser.
Deve haver medo ou receio de luto por este pedaço de tecido, nesta semana, pano tido na literatura moçambicana, como um pedaço de tecido colorido, é carregado de história e de muito significado nas suas diversas abordagens, que gera
encanto e curiosidade. Mas olha que pena e triste, lamentavelmente desagradável
olhar para a capulana como motivo de problemas em Moçambique. Se não for acautelado no sentido de haver moderação e tolerância neste aspecto, a semana do dia 07 de Abril, nos próximos anos, vai dar medo para os casais.
As actuais heroínas correm o risco de demonizar a capulana, se as coisas não forem tomadas medidas adequadas. Demorei quatro noites a tentar me conter e refletir sobre este aspecto. Não vejo um bom futuro dessa forma, não é pacífico.
Enquanto imaginava nas cerimónias e ritos, onde a capulana é integrada, e como ela é útil e glorificada, passava-me a imagem dum jovem detido pela polícia alegadamente que dispunha na sua posse uma quantia de estupefaciente, suruma, para vender e comprar capulana para sua esposa. É muito amor envolvido na capulana, que Deus distancie o ódio que pode vir a mancha-la.
Em nome de todos rituais que ela assegurou e garantiu a sua prossecução, gostaria que salvassem a boa imagem que ela traduz na nossa identidade e convivência. Ela escondeu vários segredos e não pode ser manchada assim. É um símbolo de poder, a capulana na África em geral e em Moçambique, particularmente.
O primeiro semestre, praticamente, tem sido
inútil na vida de alguns casados. Viemos das festas do final-novo ano, segue-se
o comercial e dispendioso Dia dos Namorados, vem o dia Internacional da Mulher e o nacional 07 de Abril, fecha-se o ciclo das dívidas, para alguns
desorganizados, com o dia da criança, depois das reivindicações frustradas do
primeiro de Maio.
Tirando o dia da criança, o resto desses
eventos para a minha Opinião Pessoal é uma dose de futilidades. E não vejo motivos suficientes e plausíveis que justifiquem incidentes que uma capulana causa
nas casas e relacionamentos em Moçambique, se não for ofertada as donas.
Vamos salvar o bom nome e a imagem daquele
tecido, que acompanha as nossas convivências e vidas, a nossa história, a nossa memória, em todas nuances. Antes das
bolsas que expressam vaidades e guardam bruxedos, ela veio à nos em paz pelas
mãos dos árabes. Ela não pediu muito para renunciarmos a nossa tradição. Pelo
contrário, ela coloriu e protegeu.
Extra
Você sabia que:
Em algumas localidades do norte de Moçambique,
a forma como a mulher amarra a capulana determina o seu estado civil: casada,
solteira, divorciada, viúva, noiva, etc. Para a mulher casada e mais velha, a capulana
passa a ser um símbolo de riqueza?
Por isso, ainda
continua sendo um instrumento de legitimação do poder.
Maputo, Abril 2022.
Aplausos
ResponderEliminarMais do que um texto é uma reflexão profunda para o futuro das famílias Moçambicanas! Há uma necessidade urgente de educar as nossas heroínas que de um tempo para cá penso que perderam esse título. Não só o título mas também o foco e o objetivo da criação da data, pois mulher fruto da costela do homem sempre foi humildade, respeitosa e cuidadosa....mas o que temos assistido nos últimos dias no seio das famílias Moçambicanas deixa a desejar.
ResponderEliminarMais uma vez parabéns pelo texto muita força!