A dura realidade de ser parte de um povo submisso

Foi por isso que a greve não teve impacto

Filósofo existencialista, Jean-Paul Sartre

Antes do dia 14 de Julho de 2022, recebíamos desde áudios, vídeos, textos e imagens, assim como outros recursos de comunicação, que convocavam uma possível manifestação, geral, contra o actual elevado custo de vida em Moçambique.

A máquina governativa, no final do dia 13 de Julho de 2022, se reuniu de emergência e convocou a imprensa para fazer saber os resultados dessa reunião, foi a publicação de quantitativos da suposta Tabela Salarial Única - Assunto do momento, e o anúncio do luto nacional sobre a morte do ex-presidente angolano. Mas nada sobre a greve chegou a se falar.

A questão é, à quem pesa o elevado custo de vida em Moçambique, na realidade? A resposta seria: a todos até ao Funcionário Público, que por sinal é o mais ligado ao resto da população em Moçambique. Provavelmente, seja a maioria de indivíduos que têm emprego no aparelho do Estado, o qual está a inteira dependência do Estado/Governo e deles dependem a maioria dos desempregados do país.

Alguns diziam que essa manifestação iria ajudar o funcionário público a ter reconhecimento e visibilidade ou bom salário ou bom vencimento, que melhoraria as condições de vida dos seus filhos e dos seus dependentes, afectando o resto dos moçambicanos.

Mas qual Funcionário Público se referiam? Aquele que está construindo mansões com dinheiro extorquido dos cidadãos comuns e dos colegas das outras instituições, ou, aquele que para se sustentar está gerindo as dívidas nos bancos, nos xitiques, nos agiotas, nos grupos de poupança do bairro ou do serviço, se não ambos ao mesmo tempo, e até impostos autárquicos e dos pobres apelidos que carrega?

A greve não teve pernas para andar. Porque horas antes, aquele que deveríamos lutar pelas melhores condições de vida dele e nós outros relés, ao invés de ajudar de alguma forma, fomos trabalhar e possivelmente demos o esquema ao opressor, de como a manifestação seria feita e possivelmente como reprimir para que não houvesse.

Outro bando de incompetentes, pura e simplesmente carregaram baterias das suas câmaras e telemóveis para filmar os cenários que sucederiam, entre quem arriscaria fazer a manifestação e as autoridades competentes indicadas para impedir. Outrossim, não houve autorização para que decorresse essa manifestação, que dizem "ser direito constitucional". 

Sabemos o porquê e podemos fingir demência, mas vou lembrar e despertar para quem não sabia.

Primeiro, o tal indivíduo da Função Pública e Agente, o qual cunhamos a razão para defendê-lo, é o primeiro opressor e é quem se beneficia do actual mão funcionamento do sistema. Havendo a greve, ele não produziria naquele dia e nos próximos momentos. São esses que propositadamente não trabalham para que as filas sejam longas e criam artimanhas de haver outra via, na qual, um serviço gratuito seja sujeito a pagamentos ilícitos que vão directo ao seu bolso. Sabotagem propositada para o benefício próprio e individual.

São os casos dos manos e manas que trabalham nos sectores ligados ao atendimento público. Falo dos registos e notariados, dos polícias de trânsito e da proteção pública, os fiscais, os dos bancos e outros sectores onde alguns serviços são burocraticamente criados para a colecta de receitas, em impostos e etc.

Segundo, o funcionário público e agente do Estado, tinha esperança que a Tabela Salarial Única - TSU, resolveria a crise e teve medo que com a greve, o processo fosse água abaixo. O governo mudasse de ideia. Sem saber que era um truque apenas e que nada de melhoria de salário ou vencimento viria conforme a sua ansiedade.

Terceiro, o povo moçambicano, principalmente os empregados de alguma forma, no Estado ou no privado, não tem noção que para ajudar de algum modo, só bastava não irem aos seus postos de trabalho. Apenas isso. Não ir trabalhar, seria um grande manifesto e símbolo de desagrado e desgaste do actual regime ou actual cenário. Mas ao invés disso, horas depois foram trabalhar, dia seguinte foram trabalhar e quem afinal devia fazer a greve?

O camponês não vive na cidade. O estrangeiro não tinha interesses nela. O patrão e directores, os PCA's, delegados, comandantes, chefes, líderes religiosos e outros gestores, não iriam se fazer a rua, nem faltar aos seus postos de nenhum jeito. Pois indo ou estando nos seus postos como não, suas regalias, ganhos e benefícios sempre foram preservados e sempre estão activos e disponíveis para eles.

Meus amigos ficaram todos com dados móveis nos seus dispositivos, ligados para ver o pulsar das manifestações e estavam ligados à redes sociais, estando onde? No serviço é claro. E quem ia manifestar? De certeza povos de outros países riem-se de nós. Qual manifestação é aquela? Dezenas de pneus na estrada e só em algures na cidade de Maputo e nas outras províncias está tudo bem?

Conclusões retiradas do fracasso, que foi resumidamente um bom sinal. 

Diga-se bom sinal por descobrimos que não estamos preparados para criar grandes mudanças e nossas expectativas são fracas. E depois daquilo, deu para ver que o moçambicano não se confia.

Moçambicano é traidor por natureza, covarde por singularidade, medroso por excelência e submisso por espírito. Será difícil sentir o patriotismo a vibrar no sangue de um moçambicano moderno. Nem a questão da Unidade Nacional é uma mera utopia. Por razões simples e tão simples que a política da promessa de Tabela Salarial Única revelou.

O moçambicano além de traidor, é também egoísta e individualista, invejoso e preguiçoso ao mesmo tempo. Traidor no real sentido do ser. Olha para os contornos da história da  fundação da Frelimo, da Renamo e outros movimentos políticos. As facadas nas costas entre camaradas no processo da formação do governo que assumiria o Estado. Quantos caíram e quais foram os sobreviventes!

A inveja de ver prestadores e servidores públicos como outros a ganharem igual, trouxe mais desconforto que sofrimento generalizado o qual se finge lamentar. A necessidade de exclusividade barata e insensata, pesou mais na sabotagem da manifestação. Vontade extrema e desmedida de ver o outro moçambicano igual ou inferior com empenho e função, com mais risco de vida a auferir de igual modo aos que em gabinetes e com direitos às infindáveis ajudas de custo por cada metro de deslocação, recebem sem burocracia desnecessária, está magoar corações.

O moçambicano (velho e jovem) é egoísta e individualista, porque mesmo algo sendo para o seu bem, se tiver que partilhar, ou, tiver um teor de benefício colectivo, bem comum, ele surta e arranja maneiras de tudo passar para ele sem se importar com outros moçambicanos.

Poucos são os moçambicanos que se identificam como os primeiros no sacrifício e últimos no benefício. Muitos de nós, somos os primeiros no benefício e somente nós no benefício, nunca mais no sacrifício.

Para terminar, dois termos não caracterizam a atitude e o comportamento da população moçambicana. Traição para os líderes e covardia para o povo, não bastam. A convivência desses dois comportamentos resulta em corrupção acesa, aberta e colectiva.

Temos em Moçambique, uma corrupção legal e legalizada (Nguenha e Mia Couto, escrevem melhor sobre isso). Ou melhor, resulta em corrupção como cultura, modo de ser, modo de estar e modo de viver. Não é por acaso que estamos no ranking dos mais corruptos neste planeta.

Significa que para sobreviver em Moçambique, tens de ser traidor e covarde. Se optas em chefiar ou liderar em virtude de ser um simples cidadão, então és melhor na arte de trair e acovardar-se, respectivamente. E o modo de viver é de corrupção. Seja pagando para ter acesso ou aceitação, aprovação, etc, ou recebendo propinas, cunhas, refresco, etc.

Então, não é esse tipo de cidadão que quer melhorar as condições de vida, através de manifestações colectivas como as que se convocaram antes do dia 14 de Julho de 2022. Para Moçambique esqueça os termos revolução, reivindicação, renúncia, denúncia, queixa, vergonha, ética, moral, justiça e direito, são teorias apenas. São coisas abstratas. A mentalidade de moçambicano é singular na estranheza de ser concretamente esquisito a realidade, com:

  • Funcionários corruptos e individualistas - lesa pátrias e anti soberanos - que deviam ser considerados como inimigos do desenvolvimento;
  • Povo covarde e submissa absolutamente conformada; liderança traidora e impostora - altamente tirana e arrogante;
  • FDS acomodadas e preguiçosas, temendo desemprego - simplesmente incompetentes sem generais à altura das suas fileiras e sem acometimento;
  • justiça advogada do governo e desligada do Estado, automaticamente contra o povo. 

Em suma, tudo falhado.

Em todo caso, temos o país que merecemos, como não deviam ser na sua normalidade e merecemos todo sofrimento do mundo, até que tomemos consciência de quão somos dejectos ambulantes, que pessoas normais. Eternos murmuradores e falsos crentes do Deus spray.

Seria bom visitarmos o passado e no nosso jeito de ser copiadores e pedirmos por emprestado o sentimento patriótico dos americanos, dificilmente acredito que os nossos heróis vivos tenham partilhado o mesmo trilho do Samora Machel. Samora deve ter sido extraordinário de mais para ser moçambicano.

Pelos meus cálculos, não haverão brevemente, justiceiros, para o bem comum e um futuro justo às futuras gerações, com devoto patriótico como o  fervor do Thomas Paine, um político inglês, que inspirou revolucionários americanos em 1776, quando disse:

“Se tem de haver distúrbios, que seja em minha época, que meu filhos possam ter paz”.

Ao invés disso, só veremos nas redes sociais postagem de desagrado e descontentamentos incoerentes e isolados, atrás de um "reencaminhado", "reencaminhado muitas vezes", "gosto", "👍", "👌" , "😍", "❤️", etc, acção concreta, já mais e nunca haverá.

Prontos, que Deus abençoe Moçambique, também!


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